Informações surgidas dos momentos antes da colisão entre um helicóptero do Exército dos Estados Unidos e um avião de passageiros da American Airlines na noite de quarta-feira (29) sugerem que múltiplas camadas do aparato de segurança da aviação do país falharam, de acordo com gravações de voo, um relatório interno preliminar da FAA (Administração Federal de Aviação) e entrevistas com controladores de tráfego aéreo.
O helicóptero voou fora de sua rota de voo aprovada. Os pilotos do avião provavelmente não viram o helicóptero enquanto faziam uma curva em direção à pista. O controlador de tráfego aéreo, que estava lidando com dois trabalhos ao mesmo tempo, não conseguiu manter as duas aeronaves distantes.
Um porta-voz da FAA disse que a agência não poderia comentar a apuração em andamento, liderada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes. Investigadores do acidente passarão os próximos meses revisando dados de voo, gravações e padrões climáticos, além de entrevistar controladores e outras pessoas envolvidas para tentar descobrir o que deu errado —um relatório preliminar deve ficar pronto em 30 dias.
Mas a catástrofe já parecia confirmar o que pilotos, controladores de tráfego aéreo e especialistas em segurança vêm alertando há anos: lacunas crescentes no sistema de aviação podem levar ao tipo de acidente que matou 67 pessoas em Washington.
Mesmo antes que uma causa oficial seja determinada, havia sinais de que pilotos e controladores de tráfego não estavam operando sob condições ideais.
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As funções de controle para helicópteros e aviões no aeroporto Ronald Reagan foram unificadas antes do acidente, deixando uma única pessoa responsável por ambos os trabalhos. Normalmente, um funcionário lida com o monitoramento simultâneo de helicóptero e avião após as 21h30, quando o tráfego começa a diminuir.
Mas o supervisor assumiu as duas funções antes das 21h30 e permitiu que um controlador saísse, de acordo com uma pessoa que não estava autorizada a falar publicamente sobre a investigação. O choque entre as aeronaves ocorreu pouco antes das 21h locais.
Embora não houvesse fatores incomuns causando distração para os controladores naquela noite, o número de funcionários não era “normal para o horário do dia e volume de tráfego”, segundo um relatório preliminar da FAA.
Cinco trabalhadores do setor afirmaram que o controlador de voo deveria ter orientado melhor as aeronaves para evitar colisão, em vez de apenas pedir ao helicóptero para se afastar.
A escuridão pode ter dificultado a avaliação precisa da distância entre aeronaves, e há dúvidas se os pilotos do helicóptero confundiram outro avião com o da American Airlines.
O helicóptero devia ter voado mais baixo e perto da margem do rio Potomac enquanto atravessava o movimentado espaço aéreo do aeroporto.
Antes de entrar num espaço comercial movimentado, um helicóptero precisa de autorização. A rota solicitada no Ronald Reagan seguia um caminho conhecido pelo controlador de tráfego aéreo e pelos pilotos.
A aeronave militar confirmou visualmente a presença de um jato, e o controlador de tráfego aéreo instruiu que ela voasse atrás do avião.
Mas o helicóptero não seguiu a rota planejada. Em vez disso, estava a mais de 90 metros de altura, quando devia estar abaixo de 60 metros, e meio quilômetro fora da rota autorizada no momento em que colidiu com o jato comercial.
Um oficial sênior do Exército pediu cautela ao fazer qualquer avaliação até que a caixa-preta do helicóptero pudesse ser recuperada e analisada com outros dados forenses. As duas do avião foram encontradas.
O agente, que falou sob condição de anonimato devido à investigação em andamento, disse que os pilotos do Black Hawk já haviam voado por essa rota antes e estavam bem cientes das restrições de altitude e do corredor aéreo estreito em que podiam transitar perto do aeroporto.
As falhas de segurança na aviação vêm aumentando há anos, levando a um padrão alarmante de incidentes envolvendo companhias aéreas comerciais. Eles ocorreram em meio ao aumento da congestão nos aeroportos mais movimentados do país, incluindo o Ronald Reagan, onde a presença frequente de voos militares torna o controle de tráfego ainda mais complicado.
Ao mesmo tempo, a escassez crônica de controladores de tráfego aéreo tem obrigado muitos a trabalhar seis dias por semana e dez horas por dia —uma escala tão fatigante que várias agências federais alertaram que poderia prejudicar a capacidade dos funcionários de desempenhar adequadamente suas tarefas.
A torre de controle do tráfego aéreo no Ronald Reagan está subdimensionada há anos. Até setembro de 2023, havia apenas 19 controladores certificados, quase um terço abaixo do número ideal de 30, conforme indicado o relatório anual da FAA.
Um porta-voz da agência disse na quinta que o aeroporto atualmente emprega 25 controladores certificados; a meta é 28.
Robert Isom, CEO da American Airlines, disse em entrevista coletiva que os pilotos do avião haviam trabalhado para a PSA Airlines, uma subsidiária. O capitão foi empregado pela companhia aérea por quase seis anos, enquanto o copiloto havia trabalhado lá por quase dois anos. “Eram pilotos experientes”, disse.