Sob Trump, EUA se aproximam ainda mais de Israel – 06/02/2025 – Mundo

Ativistas em defesa dos palestinos fizeram campanha, no ano passado, contra a candidatura de Kamala Harris à Presidência dos Estados Unidos. Em protestos e comícios, levaram a mensagem de que a democrata não era uma aliada dos palestinos —e mais, que não havia grande diferença entre ela e o seu rival republicano, Donald Trump.

A vitória de Trump não significou uma melhora para a situação dos palestinos. Na terça-feira (4), ele sugeriu a remoção permanente da população da Faixa de Gaza e aventou a possibilidade de que os Estados Unidos ocupassem o território, transformando-o na “Riviera do Oriente Médio”.

Como João Paulo Charleaux escreveu, remover cerca de 2 milhões de pessoas à força de seu território seria um crime de guerra. Já uma eventual tomada de Gaza por soldados americanos violaria as regras das Nações Unidas.

Após uma forte reação internacional à fala, a Casa Branca sinalizou um recuo na quarta-feira (5). A secretária de Imprensa, Karoline Leavitt, disse que Trump ainda não tinha decidido ocupar Gaza e que o deslocamento dos palestinos seria temporário, não permanente.

Ainda assim, é um recuo parcial —e continua a incluir o deslocamento forçado de uma população civil. Trump, por sua vez, escreveu nesta quinta-feira (6) que não prevê tropas americanas em Gaza, mas disse que o território seria entregue aos EUA quando a guerra acabar.

Analistas têm penado para avaliar as idas e vindas do novo governo. Muito do que o republicano promete parece tecnicamente inviável, como a deportação de milhões de imigrantes. Em outras áreas, como a das tarifas comerciais contra México e Canadá, ele voltou atrás.

No caso dos palestinos, porém, o horizonte é claro. Trump não aparenta ter interesse em encontrar uma solução para o conflito que leve em conta as reivindicações da população palestina. Pelo contrário, está se aproximando cada vez mais de Israel, fazendo dos EUA uma parte interessada na disputa em vez de um negociador imparcial.

Ele falou sobre Gaza após se reunir com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu. Na ocasião, o premiê se referiu ao republicano como o “maior amigo que Israel jamais teve na Casa Branca”. Tel Aviv tem razões para estar contente com o governo Trump.

A crise atual começou em 7 de outubro de 2023, com o ataque terrorista do Hamas contra Israel, que matou cerca de 1.200 pessoas e fez 250 reféns. Em resposta, a ofensiva israelense matou mais de 47 mil palestinos, além de ter destruído a infraestrutura de Gaza.

Palestinos acusam Israel de cometer um genocídio contra o seu povo, algo que alguns líderes internacionais, incluindo o presidente Lula, ecoam.

Os palestinos e seus aliados tinham diversas críticas ao governo do democrata Joe Biden. O ex-presidente, afinal, foi incapaz de pressionar Netanyahu para que encerrasse sua campanha militar em Gaza. Em vez disso, Biden continuou a fornecer-lhe armas. Só nos últimos dias de mandato conseguiu garantir um cessar-fogo, que de todo modo acabou contabilizado como uma vitória de Trump.

Quando Kamala anunciou sua candidatura, foi vista por palestinos como a continuação de um governo conivente com Israel. Ela era, afinal, a vice-presidente de Biden e estava atrelada a ele.

Isso motivou a mensagem, tanto implícita quanto explícita, de que não havia diferença entre ela e Trump. Enfureceu os palestinos, em especial, o fato de que Kamala se recusou a criticar a política de Biden e não se comprometeu a mudar de direção. Vêm daí grupos como o Abandon Harris (abandone Harris), que fez campanha contra a candidatura de Kamala.

A democrata não teve a oportunidade de provar que seus detratores estavam errados. Trump, até agora, tem mostrado que o seu governo vai apoiar Israel e se opor às reivindicações históricas dos palestinos por uma solução justa ao conflito. O Estado palestino, enquanto isso, está cada vez mais distante.

Folha

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